quinta-feira, 23 de junho de 2011

Yoga e Música



*O texto abaixo foi escrito especialmente para a Movimento Vívace, revista da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, edição de junho de 2011.

"Pela meditação profunda, o conhecedor, o conhecimento e o conhecido tornam-se um só. O vidente, a visão e o que é visto não têm existência separada um do outro. É como um grande músico tornando-se uno com seu instrumento e a música que dele sai." Assim define o mestre indiano B.K.S. Iyengar os efeitos da prática constante de yoga em seu livro "A Luz da Ioga". A palavra "yoga" vem do sânscrito "yuj" e significa "unir", "ligar", "reunir". Essa ciência tão antiga - que nasceu na Índia há mais ou menos 8 mil anos - nos ensina a unir o nosso corpo (em toda a sua densidade e concretude) à nossa mente (por natureza inquieta e tagarela). Conseguir permanecer presente de corpo e mente no momento presente é uma das principais lições que aprendemos com a prática da yoga. E uma das coisas que menos fazemos no nosso dia a dia... Quantas vezes você já se pegou fazendo uma coisa e pensando em outra? Quantas vezes você almoçou com um amigo e passou o encontro todo pensando no próximo compromisso?
Numa aula de yoga nos esticamos, ficamos de cabeça para baixo e em posições (asanas) talvez bizarras para quem vê de fora simplesmente para aprender a acalmar nossas mentes. Simplesmente para aprendermos (veja só!) a viver no presente. Partimos do que há de mais concreto e palpável (o corpo) para tentar acessar nossa porção quase indomável (a mente). Para isso, precisamos praticar constantemente. Na música se dá o mesmo: para o músico, não basta dominar seu instrumento para ser um artista. Ele precisa dominar a técnica e colocá-la a serviço da própria alma. Se assim não fosse, não haveria diferença entre grandes artistas e meros executores de partituras...
Quando estudava piano, lembro de me dedicar muito, estudar 6, 8 horas por dia. Estudava, estudava e estudava... Um belo dia, pensava: "Pronto. Finalmente consegui. Ufa!". Aí chegava a professora e dizia: "Agora precisa colocar alma na música." Aquilo era praticamente um balde de água fria em cima da minha partitura. "O quê?? Não estou nem no meio do caminho?", eu pensava. Como era difícil me desprender da técnica e deixá-la me ajudar a comunicar algo. Como era difícil sair da execução e passar de fato para a interpretação! Mas quando finalmente conseguia a sensação de felicidade e liberdade era indescritível. O mesmo se dá com a prática de yoga: as posturas realizadas com o cérebro trazem invariavelmente uma sensação de peso no corpo.
Segundo os mestres iogues, esse é o modo errado de realizá-las. Quando conseguimos praticar com o coração (não estou dizendo que é fácil...) e deixar o cérebro como observador da ação, a postura se torna leve e automaticamente nos sentimos felizes e, claro, livres. Yoga é isto: um estado de presença absoluta e leveza.
Difícil explicar com palavras, mas fácil de saber quando acontece. Música é isso. Não é exercício virtuosístico. É uma espécie de entrega total, presença total que comunica e é capaz de emocionar e vai além do domínio da técnica.
Ouça, por exemplo, a cantora Nina Simone. Domínio absurdo do potencial da própria voz aliado à presença verdadeira na ação. Ela e sua música são uma coisa só... Isso é arte. Isso é pura yoga.
Seja na música, seja na prática de yoga, aprenda a viver no presente e seja feliz!

2 comentários:

  1. É como diz aquele milenar ditado: "Quem canta, os males espanta"!
    Desde que tenha bom gosto na escolha do repertório, é claro. Bj., João

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  2. É, maridu! Que canta "direito" melhor ainda!! rs
    Beijos

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